Atriz, cantora e excelente bailarina e sapateadora, Mari Barros não para! Ela conquistou muitos elogios por ter sido a responsável pela remontagem das coreografias de Jerome Robbins na nova produção de “West Side Story”. Depois da bem sucedida temporada no Theatro São Pedro, Mari já engatou novos projetos como o musical infantil “Paxuá e Paramim” além de ter sido confirmada como coreógrafa dos números da cerimônia da 10ª edição do Prêmio Bibi Ferreira.
Entre tantos projetos, a atriz bateu um papo com o Backstage Musical. Confira a entrevista.
Para começar, Mari conte pra gente um pouco do início da sua trajetória artística e como você chegou ao Teatro Musical
Minha trajetória começou no interior de São Paulo, em Rio das Pedras , e depois em Piracicaba com a dança .Ainda adolescente me formei em Teatro aqui em São Paulo, e decidi ficar por aqui: sempre sonhei em coordenar a dança com o teatro e também queria muito cinema. Desde sempre eu me visualizava fazendo musical.
Em 2008 eu estava trabalhando em uma loja e decidi largar tudo, pois não aguentava trabalhar mais em algo que não era a minha área e que estava me deixando infeliz ( por mais que isso me sustentasse). Nisso comecei a fazer eventos com a Only Broadway e logo depois apareceu o teste do primeiro “West Side Story''. Vi o anúncio em um jornal na época… Fui na cara e na coragem, não conhecia ninguém e consegui passar na audição! Desde então consegui (com muito trabalho) continuar no meio do teatro musical.
Você tem uma vasta experiência, integrando o elenco de grandes musicais. Qual o desafio que essa nova produção de West Side Story representa pra você?
O desafio agora era estar à frente do West como parte do time criativo do espetáculo.
Sou uma pessoa perfeccionista, que estuda muito para dar o meu melhor, então nesse trabalho o desafio maior foi coreografar tudo num tempo recorde: Tínhamos um mês para deixar tudo pronto (entre ensaios na sala de ensaio e palco) para a estreia! Eu não podia perder tempo com dúvidas… (risos).
Você integrou o elenco de West Side Story em 2008. Como é retornar a essa obra 14 anos depois?
Retornar ao West foi um grande presente, agradeço muito ao Charles, Claudio, Glaucia , Tinna por isso!
Revisitá-lo depois de 14 anos foi muito especial, pois quem passa por esse espetáculo tem a vida transformada de alguma maneira, e agora não foi diferente.
Fazer West Side é sempre um grande desafio, para quem está no palco e pra quem está fora dele também. Criamos um vínculo forte, demos as mãos para fazer acontecer, e contar essa história com o esse time no Theatro São Pedro foi lindo.
O resultado não poderia ter sido diferente, foi um sucesso total.
Como foi o processo de remontagem de uma coreografia montada há 65 anos atrás? Quais as ferramentas ficam a sua disposição enquanto profissional responsável por esse processo?
Em 2020 eu montei as coreografias em cima da referência de um material de vídeo que haviam nos mandado, mais com o que eu havia tido de experiência da outra montagem. o Book (espécie de manual com todos os detalhes da concepção coreográfica do musical) chegou muito tempo depois pra mim. Para essa nova montagem de agora eu já havia estudado o book inteiro, mais a referência do vídeo, mais com o que eu lembrava…
Muitas das coreos no book eram em cima do que se cantavam em inglês, e que nem sempre era igual no português. Quando isso acontecia eu montava a movimentação de acordo com o que nós cantávamos sem perder o estilo, sem perder a história, sem desfigurar a linguagem do musical, eles me deram essa liberdade. Dois números do espetáculo eram meus inclusive.
O principal trabalho pra mim era também fazer com que cada ator dançasse contando a história, que eles entendessem o movimento como o Mr. Jerome Robbins havia pensado. Eu fazia questão de ler tudo o que eu tinha de material e pedia também para todos trazerem na movimentação a personalidade de cada personagem.
Foi um trabalho minucioso, de muito estudo, mas que valeu muito a pena: Aprendi muito!
Vocês tiveram de pausar os ensaios em 2020 e depois retomar depois de muito tempo e levantar o espetáculo num curto espaço de tempo. Como foi esse processo junto com elenco?
Parar o processo em 2020 foi um grande baque para todos, ninguém imaginava que não voltaríamos tão cedo. Lembro como se fosse hoje, dissemos no último dia: “Gente, se cuidem pra voltarmos daqui um mês ou dois meses no máximo.” Nossa, na época já estávamos fazendo os ensaios corridos do show.
Nessa volta de 2022 nem todos do elenco voltaram, outros estavam em outros trabalhos, tivemos que fazer audição de novo. Todos nós voltamos diferentes agora, como pessoas e como profissionais. Acredito que voltamos com um outro entendimento da obra, mesmo com esse curto espaço de tempo para montar.
Todos mergulharam de cabeça no processo e se esforçaram ao máximo para fazer acontecer, quem já estava e quem havia entrado esse ano, foi um elenco muito especial.
Teatro é conjunto, é união, e cada pessoa foi fundamental para que o show acontecesse.
Em sua opinião qual (is) o(s) número(s) mais complexo (s) de ser montado?
Na minha opinião o mais complexo foi toda a parte do baile. Desde o blues até o mambo, pois nessa cena existe muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muito detalhe e TUDO é coreografado. Desde as cenas até as coreografias. Mas pra mim, o mais difícil de ser dançado é o Cool (Jets).
Como foi o processo de manutenção do musical durante a temporada?
Eu assistia o espetáculo todos os dias, anotava coisas que iam se perdendo com o tempo (o que é muito comum), fazíamos também o ensaio dos cover e de swings, e nos aquecimentos eu sempre passava algo que precisa de algum ajuste tanto de cena como de coreografia.
Antes de West Side Story você estava no elenco de Chicago, outro musical que tem sua coreografia como marca. Quais os desafios para você, enquanto intérprete, em dançar musicais com números tão icônicos?
Chicago sempre foi um sonho: Viver Chicago, viver a Hunyak (obrigada Tânia Nardini), dançar essas coreografias que são tão geniais é indescritível, meu retorno aos palcos não poderia ter acontecido da melhor forma.
Foi um trabalho muito desafiador e prazeroso. Aprendi húngaro, a minha personagem tinha uma curva dramática muito interessante, as coreografias eram muito técnicas, a troca entre o elenco também era muito boa.
Enfrentamos o COVID perto da estreia, mas ficamos firmes e fortes: Vencemos!!!!
Você foi coreógrafa de 13, o Musical. Como foi construir um musical com um elenco composto apenas por adolescentes
Coreografar o 13 exigiu de mim muita disciplina. Eu estava em plena temporada de Chicago. Mas todos os adolescentes foram de uma contribuição imensa! Eu ameei ter feito esse musical, me diverti muito.
Eu chegava sempre com tudo pronto, as coreografias eram feitas em cima do que eu havia visto no ensaio das cenas (para que tudo conversasse entre si). E eles eram tão talentosos que a cada dia traziam alguma contribuição diferente pros personagens, e eu aproveitava pra isso para enriquecer ainda mais o que eu havia proposto. Assim acredito que tudo fica mais verdadeiro: o meu trabalho e o deles também.
Por fim, quais os novos projetos estão vindo aí?
Logo depois de West Side Story eu engatei o projeto do “Paxuá e Paramim e o novo Planeta Azulzinho”, um musical de Carlinhos Brown que tive o prazer de coreografar a convite da Lab. Cultural.
Depois desse eu pensei: “preciso dar uma pausa!” (risos). Me dediquei então a voltar a fazer aulas, me reciclar, estudar, para me preparar inclusive para qualquer nova audição que apareça pois o jogo nunca está ganho!
Tem um grande trabalho para acontecer agora no fim do ano, mas ainda não posso falar.
Estou na torcida pra que dê tudo certo!
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