Um dos musicais da temporada é Priscilla, A Rainha do Deserto. Marcado por um atmosfera inebriante e hits consagrados, não há quem não saia do Teatro Bradesco fascinado pelo show de efeitos, figurinos, perucas e é claro, coreografias que o espetáculo propõe. E quem faz a direção coreográfica do espetáculo é Mariana Barros!
Atriz, cantora, bailarina e sapateadora, Mariana Barros já esteve em cartaz em diversas produções: “A Bela e a Fera”; “Cats”, “Crazy For You”, “Raia 30, O Musical”; “My Fair Lady” e “Cantando na Chuva” só para citar alguns. Além disso, ela também tem se consagrando como coreógrafa e trabalhado em produções de destaque: Pela Möeller e Botelho coreografou “West Side Story”; “Mamma Mia” e também a invenções teatral do festival “The Town”. Também esteve a frente de “Paxuá e Paramim e o Novo Mundo Azulzinho”, da Lab Cultural dos números da cerimônia da 10ª edição do Prêmio Bibi Ferreira e também de "13, O Musical". “Priscilla, A Rainha do Deserto” é seu primeiro trabalho para a IMM Entretenimento. Confira mais sobre o processo criativo para levantar esse glamuroso espetáculo.
Você tem uma vasta experiência, fazendo parte de grandes musicais, seja no elenco ou equipe criativo. Qual o desafio que essa nova produção de Priscilla, A Rainha do Deserto representa para você?
O desafio, na verdade, desse trabalho foi saber contar essa história e trazer a peça para o contexto de hoje, porque já teve uns bons anos de diferença. Tivemos que adaptar essa peça para a nossa linguagem de hoje, que eram necessárias ao mundo de hoje, sendo contada da melhor maneira possível e da maneira mais correta possível para que todos os públicos fossem atingidos, para que a diversidade continuasse sendo contada de uma maneira que fosse ampla e que a gente não se esquecesse ninguém. Foi feito um trabalho de texto, com assessoria especializada e tudo, junto com o trabalho dos atores com o diretor para que todas as adaptações necessárias fossem contempladas. E isso também foi feito no contexto de coreografia, trazendo para uma linguagem de agora também.
Como você vê a volta desse espetáculo para São Paulo, no Teatro Bradesco, depois de mais uma década? Qual a relevância de contar essa história ainda nos dias de hoje?
Eu acho que a volta desse espetáculo é superimportante, pelo que a gente vê, ainda nos dias de hoje: passaram-se 10 anos e muitas pessoas não mudaram as suas atitudes perante a diversidade e perante as pessoas que fazem parte dessa diversidade que é tão linda, tão colorida, tão amorosa. Então eu acredito que ela tem muita relevância, inclusive nos dias de hoje, mais ainda nos dias de hoje e que vale a pena essa história ser contada para que as pessoas continuem pensando, saiam do espetáculo pensando e entendendo a relevância dessa história no mundo atual ainda.
E a gente percebe como isso atinge as pessoas pelo resultado do que está acontecendo no palco e na plateia: Nós temos todas as sessões praticamente lotadas, está sendo um sucesso absoluto e eu acho que essa resposta, vem disso mesmo, né? A importância também está na felicidade até das pessoas estarem assistindo o espetáculo e se verem representadas, eu acho que a resposta maior é a plateia lotada.
Qual o maior desafio para as coreografias de Priscilla, A Rainha do Deserto?
O maior desafio coreográfico em Priscilla, foi trazer uma movimentação que não é da minha linguagem no meu dia-a-dia. É uma movimentação que eu adoro, o Waacking, e o Voguing são movimentações que eu admiro quem dança e que eu tive que estudar e fiz com maior prazer! Como coreógrafa tenho que estar sempre me atualizando para conseguir trazer referências na coreografia e trazer o que foi pedido, tanto pela direção como produção, então eu acho que em qualquer espetáculo, não somente no Priscila, é importante o coreógrafo estar antenado com o que está acontecendo.
A maior responsabilidade foi agregar a minha linguagem à essa movimentação. Uma orientação nova que faz parte dessa linguagem de hoje em dia; das drags; essa combinação com jazz/funk; foi desafiador mesmo, mas no melhor sentido da palavra. Eu acho que agregou muito ao meu estudo, as minhas referências, eu abri o leque dentro da minha cabeça, de como a dança tem as suas vertentes e como todas as vertentes da dança são importantes, todas as linguagens são importantes, e fazendo isso sempre com muito estudo, com pessoas ao meu lado que entendem dessas movimentações e que também estavam dispostas a colaborar comigo. Eu tive pessoas muito, muito boas ao meu lado colaborando para que eu fizesse da melhor maneira possível meu trabalho em Priscilla, A Rainha do Deserto.
Bastidores dos ensaios de Priscilla, A Rainha do Deserto - Fotos de Caio Galucci
Priscilla explora muito a cultura drag: Qual foi sua fonte de estudos e inspirações?
Para o Priscila, o Mariano Detry (diretor) estudou muito RuPaul Drags Race, e ele trouxe várias referências pedindo para nós assistirmos também. Eu assisti muito RuPaul, me inspirei muito na Katya Zamolodchikova (uma russa no RuPaul que é surreal de boa); na Bianca Del Rio... Busquei também outras referências de drags em filmes; muitos shows, bluespace; assisti o documentário de Divinas Divas da Leandra Leal para entender as drags que eram. Vi material de uma drag que se inspirou na Bernadette; estudei sobre dublagem e lip sync, depois pegando um pouco mais a cultura de agora, enfim: Muita pesquisa! Mas essa montagem do Priscilla foi muito baseado na linguagem Drag de agora, que está em evidência e ganhou um mercado forte.
Minhas referências de drag foram uma mistura de assistir todos capítulos do RuPaul, quanto do estudo dessas drags mais antigas. E dentro do próprio elenco, nós temos o Diego (Martins, intérprete de Adam Whitley/Felícia), que faz shows de drag; a Bettina, que é a (persona drag) do Beto Macedo (que interpreta Farrah/Ensemble): duas pessoas muito fortes dentro do elenco e que são drags e que a todo momento eu era muito acolhida por eles, para trazer o que fosse de melhor para essa linguagem.
Você esteve na equipe criativa de West Side Story onde havia essa demanda de respeitar o material original. Em Priscilla, essa demanda também se repete. Como é para você esse zelo por uma coreografia que veio de fora e ao mesmo tempo imprimir o seu estilo na obra?
Na verdade, a minha preocupação sempre, quando vem algo de fora, é que eu não perca a linguagem. O que eu posso criar da minha linguagem e como eu posso adaptar para agora? Então, o West Side foi uma coreografia original, mas eu tive a liberdade para recoreografar o que fosse preciso, para que as versões das músicas em português, as coreografias fossem compatíveis e não datadas afinal, porque o Jerome Robbins coreografava muito em cima do que era cantado.
Em Priscila, a coreografia é totalmente minha, mas eu decidi, eu acho que algumas coreografias, algumas movimentações que datam da década de 1990, são essenciais para que a gente não perca a identidade do que é o Priscilla. Porque, como algumas roupas são icônicas, algumas movimentações também são icônicas. Então, na verdade, não é a mesma coreografia, mas eu trouxe uma movimentação que remete ao que já é conhecido do grande público. Isso fica bem evidente na música “I Will Survive”, que encerra o primeiro ato, que é o mesmo momento em que as roupas, que são tão conhecidas, elas entram no palco. Então, como o Fábio (Namatame, figurinista do musical) teve sua releitura das roupas, eu também fiz minha releitura coreográfica.
Eu vejo que coreografei mantendo alguns passos que são muito identificáveis, digamos assim, da coreografia original. Eu respeito muito o trabalho de todos os coreógrafos de quem eu trabalhei e de quem eu estudo: eu trago a minha identidade e mantenho a linguagem do outro. Por outro lado, também me foi dada liberdade para trazer uma movimentação completamente diferente para as outras coreografias. Foi um pedido da direção, e eu fiquei muito feliz, porque daí eu pude também trazer a minha movimentação e a minha linguagem para o espetáculo.
Eu acho que os musicais que eu coreografei (West, Priscilla) lidam com coisas que estão no inconsciente coletivo. A gente tem que ter um carinho, um respeito muito grande pelo trabalho que foi feito anteriormente ao nosso. Por mais que a gente mude completamente o espetáculo, o texto se mantém, a música também, mas o resto e por mais que a gente mude tudo, é preciso ter um olhar carinhoso ao que veio antes: Houve já um espetáculo feito que foi um sucesso, e esse olhar de gratidão ao que foi feito anteriormente é necessário.
E o que tem de Mariana Barros nestas coreografias?
O que tem de Mariana é uma boa mistura na verdade e a dedicação! Que foi algo que eu trouxe para esse espetáculo e quem tudo que eu faço. Eu gosto muito da cena do Brooken Hill, que é bem cênica, bem o tipo de coisa que eu gosto de fazer, mas em Priscilla é muita música de show então acaba sendo essa mistura do que foi pedido pela equipe criativa e o que acreditava que serviria para contar a história. Mas não tem nada tão específico, por que eu faço coreografia para o show e não pra mim, é sobre aquilo que o show pede e não sobre minha linguagem.
Não sei dizer ainda se tem uma assinatura minha, algumas pessoas dizem que conseguem enxergar, eu acredito que ainda estou nesse processo, de descobrir o meu caminho como coreógrafa. Estudo muito para fazer o melhor trabalho e valorizar a confiança que foi depositada pela produção em mim e no meu trabalho. Eu acredito muito na dedicação e isso é o que mais está impresso de mim no Priscilla.
Confira os principais trabalhos coreografados por Mariana Barros
Em Mamma Mia e Priscilla você teve o desafio de construir coreografias e cenas em cimas de músicas que são verdadeiros hits, que furam a bolha do teatro musical. O seu olhar como coreógrafa para essas canções? Como você tem percebido a resposta do público?
Eu venho de três espetáculos, um seguido do outro, que foram sucesso absolutos! Coreografar músicas que são hits, tanto West Side Story, Mamma Mia e agora, Priscilla. foi desafiador, porque a movimentação e o espetáculo já são consagrados, você recoreografar acaba sendo um desafio. Mas eu acredito que as músicas ajudam muito e que a visão da direção, (dos dois trabalhos mencionados), essa troca com o diretor é muito importante pra que a gente consiga também modificar o que já foi feito de coreografia também.
É uma grande responsabilidade, mas a música também e a troca com o elenco, faz total diferença para que a gente consiga fazer isso. Ver o público reagindo a essa coreografia é ótimo: Logo no começo do Priscilla, quando já começa a música, o público já vem abaixo, né? É muito bonito, parece que a gente está num show num estádio imenso, com pessoas gritando. É surreal de tão lindo!
A troca com o diretor e com o elenco faz com que isso se torne mais tranquilo, né? Teatro é uma troca, tanto com o público como no processo criativo. Eu tive diretores que conseguiram conduzir da melhor maneira possível isso, que eles sabiam o queriam e então, coreografar esses grandes hits musicais acabou sendo um pouco mais tranquilo.
Em sua opinião qual (is) o(s) número(s) mais complexo (s) de ser montado?
Não sei dizer qual foi a coreografia mais difícil de ser montada. Acho que foi “It’s Raining Man”e o velório de “Don’t Leave Me This Way”.
Por fim, por que as pessoas não podem deixar de conferir Priscilla, a Rainha do Deserto?
As pessoas têm que assistir, porque trata sobre diversidade e isso precisa e deve ser falado, e cada vez mais: a gente precisa bater nessa tecla até hoje! As pessoas precisam assistir porque elas vão se divertir, elas vão sair do teatro leves, elas vão se emocionar.
Esse é um espetáculo feito a muitas mãos para que fosse um sucesso, e está todo mundo se doando muito para que seja feito o melhor espetáculo todos os dias. Digo com toda a minha convicção, desde produção, criativos, enfim, que continuam lá trabalhando para que o espetáculo mantenha a sua qualidade, é um elenco que está muito afim de fazer.
Outro motivo: dentro do próprio elenco também existe essa diversidade que antigamente não existia. De pessoas ocupando esse espaço que é delas e que é necessário ocupar. Temos as divas, que são as nossas mulheres maravilhosas, essas mulheres pretas lindas, que têm um destaque maravilhoso, que são três mulheres que eu admiro muito: A Amanda, Lucy e Claudia. Tem a Verônica Valentino e Wallie Ruy, marcando como a primeira vez que a personagem Bernadette é interpretada por mulheres trans. Tem o Diego Martins, que é uma drag; tem o Gianechini em seu primeiro grande musical... Enfim, nós temos um elenco de grande diversidade, colorido como tem que ser, então eu acho que todo mundo tem que assistir mesmo. Porque eu acredito que as pessoas que assistem saem transformados desse teatro.
SERVIÇO
Priscilla, A Rainha do Deserto
Em cartaz no Teatro Bradesco (Shopping Bourbon| R. Palestra Itália, 500 – Perdizes, São Paulo – SP)
Sessões: Quinta e Sextas-feiras às 20h, Sábados e Domingos às 16h e 20h
Ingressos a Venda na bilheteria do Teatro Bradesco e Teatro Opus Frei Caneca (sem taxa de Serviço) ou pela Uhuu
Duração: 155 Minutos
Classificação etária: 16 Anos
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