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Mães no Teatro Musical Brasileiro – Conheça Mais Sobre os Desafios Envolvendo Carreira e Maternidade



Sem dúvidas, o Dia das Mães é uma das datas comemorativas mais emocionantes de todo calendário. É indiscutível a importância de uma mãe para seus filhos e sua relevância para a sociedade como um todo. Nos palcos, sempre que a maternidade entre como plot temos certeza que seremos tocados de alguma forma.

 

Ao longo dos anos, o Backstage Musical para homenagear as mães falando de personagens como Donna Sheridan, Emma Parker e Edna Turnblad que com certeza marcaram o teatro musical. Também já listamos cenas e músicas como “She Used to be Mine” (de Waitress) ; “I Dreamed a Dream” (de Lés Misérables)  e “The Letter” (de Billy Elliot) que arrancam aplausos emocionados do público. No entanto, esse ano nossos holofotes saem das personagens e das histórias e vai direto para as profissionais do Teatro Musical Brasileiro que ajudam a contar essas histórias.

 

Entrevistamos mães com intuito de mostrar um pouco para vocês dos bastidores de se construir uma carreira na indústria do entretenimento enquanto se tenta conciliar a maternidade e toda uma lista de responsabilidades que isso representa para essas mulheres.

 

O Desafio de Conciliar a Carreira com a Maternidade

 

Além dos desafios da sobrecarga materna que todo mundo já conhece, algo específico da carreira artística vem pelo fato de que o trabalho de uma mãe-atriz não acontece só na sala de ensaio ou nos palcos, como aponta Mariana Grandi (Kiss Me Kate, Bonnie e Clyde, Pippin). Ela conta que precisa conciliar os “para casa” do seu trabalho atual e também dar atenção e cuidado para o filho, sendo que muitas vezes a vontade é realmente para tudo e brincar com ele.

 

Eu chego em casa e meu trabalho não acabou: Eu tenho que fazer pesquisa da personagem, decorar texto, eu tenho que estudar. E como fazer isso sendo mãe de uma criança pequena? É muito desafiador!

 

Apesar do desafio, ela consegue ver vantagem nesse processo. Afinal, a logística de estudar um roteiro na hora que a criança dorme e outras concessões e ter tempo como fator limitante deixou seu trabalho mais objetivo e assertivo, opina.

 

 




 

Outro ponto levantado pela atriz, está na instabilidade da profissão. Casada com o ator Marcel Octávio (O Rei Leão, Rock Horror Show, Assassinato Para Dois), os dois acabam tendo horários; ganhos mensais e rotinas bem variáveis. Surge um teste, uma dublagem, um novo trabalho e a todo tempo acaba sendo necessário remanejar as agendas. Mesmo sendo esse um cenário caótico, a compreensão do cônjuge pela profissão acaba vindo muito a calhar.

 

Mari Saraiva (Cabaret, Uma Linda Mulher, O Guarda Costas) ressalta ser primordial a ajuda dos que compõem sua rede de apoio para conseguir vencer os inúmeros desafios que vamos vencendo a cada dia, para a atriz o suporte dessa pessoa é muito importante para que ela consiga ainda trabalhar com arte:

 

Como a nossa demanda artística é muito intensa existem inúmeros desafios que vamos vencendo a cada dia. Eu e meu marido, temos uma rede de apoio familiar muito forte, que quando estamos os 2 em cartaz eles nos ajudam ficando com as crianças. Meu horário de trabalho é diferente de muitas mães por exemplo, fico 6 dias trabalhando 9 horas durante um período depois fico ausente nos finais de semana, fazendo com que fique difícil de contratar alguém para nos ajudar em casa.

 

 

Casada com o ator Ubiracy Brasil (Alô Dolly, 2 Filhos de Francisco, Além do Ar), Mari Saraiva ainda enumera sobre outros desafios como não poder estar em festas de aniversário dos filhos ou em alguma atividade da escola nos finais de semana. A ausência dentro de casa apontado pela atriz e versionista Mariana Elisabetsky como um dos motivos que a fez migrar para um trabalho menos presencial.

 

 Quando estava cartaz em grandes produções como “Mudança de Hábito” e “Meu Amigo Charlie Brown”, e os seus filhos eram bem novinhos, Mariana precisava driblas os fuso-horários diferentes já que ela chegava do teatro eles estavam dormindo há muito tempo e quando acordavam, ela não havia dormido o suficiente para descansar.

 

Durante os ensaios, não estar presente em casa fazia muita falta. Eu não gostava de delegar os cuidados deles a outras pessoas e sentia que estava perdendo muito do crescimento e das enormes descobertas que as crianças fazem diariamente ao longo dos primeiros anos de vida.

 

Uma das fundadoras do site Cena Musical, Marília Di Dio também aponta os horários irregulares como um dos principais desafios de conciliar a carreira com a maternidade, destacando que ter a família por perto, como parte de uma rede de apoio eficaz torna as coisas mais fácil.

 

Quando a gente trabalha com entretenimento, trabalhamos contra maré, ou seja, quando todos estão descansando, nós estamos trabalhando, então eu não tenho como deixar meu filho na escola para ir trabalhar, porque quando eu saio pra trabalhar a escola já fechou.” 

 

 

Outra colocação de Mari Saraiva é a questão do o desgaste físico e mental, afinal, para quem chega do trabalho com a casa com filhos o tão recomendado repouso vocal após um fim de semana, não existe! Sobre o mesmo assunto, Mariana Grandi completa “A gente mexe com beleza e mal consegue dormir, se exercitar, uma loucura: Tem um desafio estético e ciência ainda não resolveu essa questão das olheiras”, conta a atriz de forma muito bem-humorada.

 

 

Os Corres Durante o período do Ensaios e Temporada

 

Se você acha que estar em cartaz de quinta domingo, com seis ou sete sessões por semana é uma rotina puxada, imagine só o período de ensaio e montagem de uma produção. Em menos de dois meses um espetáculo é levantado em uma maratona de ensaios que ocupa a agenda dos artistas. Para Mari Saraiva esse é um tempo de estar ainda mais próxima dos filhos, aproveitando cada minuto com eles antes de sair para trabalhar.

 

Se os ensaios acontecem no período da tarde/noite, priorizo ficar com eles na parte da manhã, estudando, brincando e dando atenção direta à eles. 

 

O que Mariana Grandi aponta é que como os ensaios acabam pegando o período da tarde, se estendendo pela noite, ela acaba tendo o período da manhã com o filho Davi, período esse em que a criança está mais agitada e engajado e com isso, dá para ter muita troca com ele.

 

Dormir é para os fracos, como que eu driblo isso? Eu não durmo (risos) Se eu chego em casa de madrugada: Que bom!  Às cinco e quinze do outro dia estou de pé, curtindo e brincando com ele." 

Esse período também é exigente para quem está nos bastidores, como foi o caso da Marília nas produções de Billy Elliot; Escola do Rock e O Rei Leão. Para ela, esse é um tempo de muito diálogo aberto com a criança:

 

As vezes, eu saio de casa e meu filho fala: "ah, mamãe! Eu não quero que você vá pro Rei Leão", então eu paro e explico o porque eu preciso ir. Dá uma dor no coração, mas no final eles entendem.

 




 

Gravidez e Trabalho


Quando se está em cartaz com um espetáculo, junto com a gravidez e todas as interrogações sobre a maternidade, lidar com seu trabalho dentro de uma temporada tem suas particularidades. Mariana Elisabetsky viveu isso em 2010, quando estava em cartaz como atriz e versionista em “Meu Amigo Charlie Brown”. Ela fez o espetáculo grávida mas inevitavelmente, teve que deixar o espetáculo nos estágios mais avançados da gestação. Como ela mesmo relata, é “interessante notar como a maternidade coloca tudo em perspectiva” afinal, em 2016 ela voltaria aos palcos para o revival desse mesmo musical agora com os filhos na plateia:


Era um espetáculo muito especial pra mim porque eu havia feito a versão brasileira e estava em cena "defendendo" aquele texto e aquelas canções. Fazer o espetáculo grávida foi muito especial, mas também foi o motivo que me fez abandonar a peça antes da temporada acabar, o que me trouxe tristezas. E aí, quando o espetáculo voltou em cartaz, num revival, tive a chance de estar em cena novamente, mas agora com os dois na plateia. Foi com certeza um dos maiores presentes da minha vida.

Mãe de três filhos, Mari Saraiva viveu as três gerações em temporada! Sem enjoos ou qualquer intercorrência grave que impossibilitasse ou dificultasse seu trabalho, a atriz conta que tirando um pouco de sono, com a liberação de sua obstetra pode cumprir a temporada dos musicais em que estava em cartaz com cautela e cuidado. O que chama atenção é justamente o fato de artista sempre estar em espetáculos com uma significativa carga coreográfica e seguir em cartaz grávida com certeza é impressionante:


Como bailarina, eu acho que me sai bem, sabendo administrar o aumento da barriga, ganho de peso e até a flacidez de algumas articulações com a adaptação de movimentos, eu sabia exatamente como deveria fazer o movimento com um "novo" corpo.

 




 

Mariana Grandi teve uma experiência diferente justamente por ficar grávida numa volta de pandemia. Ela estava fazendo uma gravação e decidiu engravidar após o término desse trabalho, sendo assim durante a gestação ela estava dando aulas em seu espaço (Casa Henriqueta) e aulas online e com isso, se beneficiou de um período mais tranquilo. No entanto a atriz percebe que existe uma desconfiança do mercado frente a gestante e lactante e que aproveitava o horário de pausa nos ensaios (geralmente para almoço ou janta) para fazer suas refeições de forma apressada justamente para bombear o excesso de leite.


O que eu percebo é que os ambientes, não só o artístico, não é muito acolhedor para gestantes e lactantes. Eu senti isso. Eu tive sorte de depois que o Davi nasceu eu vim trabalhar com uma outra produtora que me acolheu mesmo, eram produtoras mulheres, meu camarim era chamado de lactário.

Sobre o assunto ela comenta que assim como ela outras atrizes passam por esse desconforto, relatando que saía “para ir ao banheiro” e dessa forma tentar conter um vazamento já que não é de praxe que exista esse tempo e preocupação das produções em deixar que lactantes para fazer o bombeamento para seguir com ensaio de forma mais confortável.

 

Tudo Muda quando Nasce Uma Mãe


Dizem que quando nasce um bebê, nasce uma mãe. A medida que as crianças estão se desenvolvendo e descobrindo o mundo, essas mulheres também vão ressignificando muitas coisas em si mesas. Mariana Elisabetsky diz perceber que muita coisa que julgava ser vital, deixou de ser tão relevante após ter se tornado mãe. Para ela, a maternidade deu uma realinhada nos valores:


Minhas escolhas mudaram profundamente. Quando estudo uma nova proposta de trabalho me pergunto o quanto estarei fora de casa, o quanto deixarei de estar presente na vida deles e, em contrapartida, qual o ganho artístico, financeiro, projeção, etc. Esta é a primeira balança. Eu deixei de ser a número um na minha lista há treze anos. Desde então, as necessidades e atividades terapia, o acompanhamento fonoaudiológico, o aparelho dentário, os óculos, a aula de natação, de inglês vêm antes da minha aula de canto, da minha aula de dança ou qualquer coisa que seja para mim.

 




 

Equilíbrio é a palavra de ordem pra Marília Di Dio. Com a rotina mais agitada, essa é uma habilidade que essas profissionais precisam desenvolver e assim consigam espremer seus compromissos profissionais de forma que eles não atrapalhem a rotina de casa.


Tem muitos dias que é exaustivo, o desafio é adaptar pra não desequilibrar o tempo do trabalho com o tempo com a família.

Apesar de desafiador, pouco a pouco as coisas vão se acertando. De mãe de primeira viagem à chegada do segundo e terceiro filho, para Mari Saraiva a experiência adquirida ao longo do tempo acaba sendo uma grande aliada na hora de administrar a agenda.


Eu sempre digo que 3 filhos é mais fácil do que 1. Quem administra a agenda com 1, 2 consegue administrar com 3. Não digo que ficou mais fácil ou mais difícil, ficou igual como se eu tivesse 1 ou 2.

 

 

Teatro, Experiências de Vida e Maternidade


Se por um lado a carreira traz seus desafios e aprendizados, por outro lado ela também traz momentos que são ampliados pelo prisma da maternidade.


Versionista de musicais de sucesso como o já mencionado “Meu Amigo Charlie Brown” e também “Wicked”, “Once” e “Cantando na Chuva”, Mariana Elisabetsky tem um considerável trabalho dentro do audiovisual voltado para o público infantil:  Como as séries de animação “Ao Pé da Letra” e “Vet Ivete”, o livro Infantil “Seu Vô e a Baleia” além de assinar as versões de “Encanto”; “Frozen II” e diversos dos recentes Live-action da Disney. Com esse currículo é natural pensar que a maternidade influencia a forma que ela conduz esses trabalhos.


No entanto, ela conta que sua afinidade com o público infantil vem de antes mesmo de ela ser mãe, tendo até mesmo já trabalhado como apresentadora e roteirista na TV Cultura quando era mais novo. Para Mariana, que está escrevendo seu segundo livro infantil, os filhos acabam sendo um ponto de partida para seus diversos projetos.


O que eu percebo é que meus filhos são uma fonte de inspiração enorme para os meus projetos pessoais no audiovisual e na literatura. Mas é curioso porque estes projetos levam tantos anos pra sair do papel que, quando são lançados, meus filhos já estão numa nova fase.

Já Marília Di Dio tem uma relação bem simbiótica com os trabalhos que fez e a forma que acompanha o crescimento do filho de Theo. Ela diz que conta a idade dela pela temporada que fiz, brincando que não lembra o ano, que nasceu durante a temporada de ‘A Escola do Rock’:


Lembro que no último dia dessa temporada, chamaram toda a equipe no palco e a galera da produção falou para eu entrar com ele no colo. Ele tinha 3 meses só e quando entrou todo mundo começou a gritar o nome dele. Foi muito fofo!



Momentos como esse fazem tudo fazer a pena para essas mães e profissionais. Para Mari Saraiva receber os filhos na plateia funciona como uma afirmação do seu trabalho, do porque ela segue e continua com sua carreira. Emocionada, ela conta:

Eu não tenho nem palavras para descrever, é muito especial! É a certeza de que eu estou no caminho certo. De que estou fazendo isso por eles, ver o sorrisinho deles, a alegria e como eles curtem estar ali para mim é certeza de que o coração está muito preenchido

Mãe de primeira viagem, Mariana Grandi esteve com seu filho várias vezes pela coxia, mas a primeira vez que o pequeno Davi de 2 anos foi vê-la no musical “Kiss Me Kate- O Beijo da Megera”, sentado na plateia, ela teve uma sensação de bem única:

O Davi gritava da plateia: Mamãe, mamãe!! Foi desesperador, mas eu sei que depois vai ser gostoso de ter ele na plateia. Meu trabalho eu faço com tanto amor e sempre subo no palco pensando em transformar a vida das pessoas e fazer isso por meu filho, eu me emociono só de imaginar... Vai ser demais

 

Puxando a Mamãe

 

Para qualquer pessoa a mãe acaba sendo um importante referencial de vida. No caso de uma mãe que tem uma relação tão íntima com a arte é comum que os filhos despertem o interesse e ainda bem novinhos comecem a demonstrar seus talentos. Os filhos de Mariana Elisabetsky por exemplo já trabalham como dubladores, locutores e atores de voz, e segundo ela, gostam muito do que fazem!

 

É uma linha tênue entre a inspiração e projetar uma carreira para uma criança ou adolescente que demonstre suas aptidões. E nesse ponto, a atriz e versionista é categórica:

 

O que eu torço é para que tenham a mesma sorte que eu tive, de encontrar um trabalho que me inspira tanto e me traz tantas alegrias!

 

Já Mari Saraiva destaca uma certa coincidência entre a afinidade artística dos filhos e o fato de ter os gestados enquanto estava nos palcos. Afinal, como já comentado acima, ela cumpriu temporada de todos os musicais em que trabalhava, sendo isso dá para dizer que todos os filhos fizeram um musical com ela na barriga.

 

A primogênita Juju que fez ‘Alô Dolly’ comigo (até 7 meses) ama desenhar. Nosso segundo filho Miguel, que fez ‘O Homem de La Mancha’ na minha barriga (até os 6 meses) ama dançar. E nossa caçula Liz, fez o musical ‘Hebe’ na minha barriga até 9 meses, tem um ouvido harmônico impressionante. Ela ama cantar e dançar.

 

 

Nosso sincero agradecimento às mães que toparam dividir suas experiências de vida com o Backstage Musical. Aos nosso público e leitores, fica nosso convite a reflexão e distribuir aplausos calorosos pelo trabalho dessas mulheres cheias de garra, determinação e arte.

 

Fica então nossa homenagem para elas que nos inspiram e nos ensinaram o real sentido da palavra Amor. Somos gratos por cada momento de carinho e pelas palavras de incentivo e por toda fibra com que batalham dia após dia.



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